segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Presa aos 7 anos"

Sob este título Inês Perdosa na Revista ÚNICA de sábado passado revela um facto criminoso, de que foi vítima uma menina de 7 anos. Com a conivência de todos, do Tribunal de Fronteira, à GNR e à incrível incúria de “técnicos especializados”.
A denúncia era simples e pronta: a menina queixava-se dos abusos sexuais que lhe eram infligidos pelo pai, quando era obrigada a visitá-lo. Gritava, chorava e explicava com todos os pormenores o que o pai lhe fazia e a obrigava a fazer, implorando que não deixassem ir, enquanto se agarrava ao pescoço da mãe.
Perante isto – e ao fim de meses (segundo o relato de Inês Pedrosa) – o Juiz decidiu institucionalizar de imediato a menina, “sem sequer poder despedir-se da família”. E assim continua há mais de um mês: presa sem direito a visitas!
No fim a cronista conclui aliviada: “Ainda bem que já não tenho 7 anos”.
Fez bem Inês Pedrosa em denunciar este facto. Eu, porém, não me sinto nada aliviada. O sofrimento e injustiça infligidos a esta criança, merece bem mais que uma crónica de revista.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os Manifestos dos Economistas


“Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.”

Este ditado parece poder aplicar-se a ambos os manifestos, Ou serão já 3?.

Fanicos não é economista, nem quer. A sua área é a História, talvez a mais importante das mal-chamadas “Ciências Sociais”.

Não vale a pena descrever os mecanismos que criaram o Mercado. São demasiado conhecidos. Nem o “lucro” que é decorrente deste. O que está em causa são os métodos usados para o desenvolvimento do mercado e criação de riqueza.

(Passando por cima de alguns séculos:)

Tudo começou quando o comerciante passou a empresário. Deixou de investir com o seu trabalho, substituindo-o pelo seu dinheiro. Todo o homem é ambicioso. Produzir muito por pouco dinheiro passou a ser o seu objectivo principal. Ainda o é.
A escravatura preencheu esse objectivo por muito tempo. Mas o escravo não consome, não gera mercado, gera mercadoria apenas. O consumidor torna-se assim parte essencial no sistema.

O colonialismo – não o da Grécia antiga – foi a solução encontrada. As colónias fornecem matérias primas e escravos. E absorvem os excedentes da produção. A riqueza resultante favorece o consumo. Parecia perfeito.

É então que o Estado resolve implicar-se no sistema: o consumo gera trabalho, o trabalho emprega homens, os homens pagam impostos, o Estado enriquece. É o princípio do Mercantilismo.

Na fase seguinte o investidor-empresário vai rejeitar a intervenção do Estado: É o “livre câmbio”. Mas o trabalho escravo mantém-se ainda na base do sistema.

(Voltando a passar por cima de séculos, embora menos:)

A escravatura é lentamente abolida. Mas o lucro continua a exigir produção. E esta só se faz com trabalho. Nem a máquina dispensa o trabalhador. Nasce o Proletariado. Que entra em choque com o Capital. É a Revolução.

Mas a música não deve parar.

O regresso à intervenção estatal pareceu ser uma primeira solução, para alguns. A auto-regulação do mercado, para outros.

(Passando por cima do Comunismo, do Fascismo, do Nazismo, da Social-Democracia nórdica, da Democracia Cristã, e do Liberalismo americano.)

O facto é que as colónias vão desaparecendo uma a uma. E com elas, as matérias primas baratas, e o trabalho explorado.

Se já não é possível utilizar o trabalho-escravo (ou semi-escravo) nos termos anteriores, toca de arranjar forma de retirar aos trabalhadores-nativos dos países ditos civilizados, a maioria dos seus direitos, transformando-os em “servos da gleba”.

Entretanto surge essa coisa peregrina chamada “Globalização Económica”. Que mais não é que uma maneira fácil e barata de utilizar uma nova forma de escravatura, em países longínquos e miseráveis, em que homens, mulheres e crianças, sem qualquer protecção, se matam a trabalhar (sem horário), por uma mísera tigela de arroz. Deslocalizar para lá as empresas, obtendo assim uma produção incrivelmente barata que irá ser vendida no ocidente a preços muitíssimo competitivos, gera uma riqueza imensa nas mãos de muito poucos. É o neo-liberalismo.

Mas o grande consumo está ainda no ocidente, onde grande parte dos possíveis consumidores vão ficando desempregados, ou nem sequer conseguem emprego. Sem emprego, não há trabalho, sem trabalho não há dinheiro, sem dinheiro não há consumo, sem consumo não há impostos, o Estado empobrece. É a CRISE.

Paralelamente surge a especulação financeira que nunca resolveu problema nenhum. Sucedem-se os grandes negócios, na sua maioria ilícitos ou fictícios, mas também as grandes falências (já tinha acontecido no início do século XVIII, com o Sistema Law, lembram-se? E lembram-se no que deu?).

A riqueza estará onde estiver a força de trabalho. E essa já não está aqui. O aumento ou diminuição demográfica também tem uma palavra a dizer – sempre teve.

Estamos actualmente da fase da “grande revolta”. Onde esta vai conduzir ainda não sabemos, mas podemos adivinhar. E não serão os grandes economistas nem os grandes financeiros que o irão resolver. É da História.

Numa visão futurista podemos talvez antever uma grande reviravolta – não será a primeira na História – em que os antigos colonizadores se transformarão em novos colonizados. É o fim duma Cultura.

Talvez seja justo, quand même.