quinta-feira, 2 de julho de 2009

Os Manifestos dos Economistas


“Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão.”

Este ditado parece poder aplicar-se a ambos os manifestos, Ou serão já 3?.

Fanicos não é economista, nem quer. A sua área é a História, talvez a mais importante das mal-chamadas “Ciências Sociais”.

Não vale a pena descrever os mecanismos que criaram o Mercado. São demasiado conhecidos. Nem o “lucro” que é decorrente deste. O que está em causa são os métodos usados para o desenvolvimento do mercado e criação de riqueza.

(Passando por cima de alguns séculos:)

Tudo começou quando o comerciante passou a empresário. Deixou de investir com o seu trabalho, substituindo-o pelo seu dinheiro. Todo o homem é ambicioso. Produzir muito por pouco dinheiro passou a ser o seu objectivo principal. Ainda o é.
A escravatura preencheu esse objectivo por muito tempo. Mas o escravo não consome, não gera mercado, gera mercadoria apenas. O consumidor torna-se assim parte essencial no sistema.

O colonialismo – não o da Grécia antiga – foi a solução encontrada. As colónias fornecem matérias primas e escravos. E absorvem os excedentes da produção. A riqueza resultante favorece o consumo. Parecia perfeito.

É então que o Estado resolve implicar-se no sistema: o consumo gera trabalho, o trabalho emprega homens, os homens pagam impostos, o Estado enriquece. É o princípio do Mercantilismo.

Na fase seguinte o investidor-empresário vai rejeitar a intervenção do Estado: É o “livre câmbio”. Mas o trabalho escravo mantém-se ainda na base do sistema.

(Voltando a passar por cima de séculos, embora menos:)

A escravatura é lentamente abolida. Mas o lucro continua a exigir produção. E esta só se faz com trabalho. Nem a máquina dispensa o trabalhador. Nasce o Proletariado. Que entra em choque com o Capital. É a Revolução.

Mas a música não deve parar.

O regresso à intervenção estatal pareceu ser uma primeira solução, para alguns. A auto-regulação do mercado, para outros.

(Passando por cima do Comunismo, do Fascismo, do Nazismo, da Social-Democracia nórdica, da Democracia Cristã, e do Liberalismo americano.)

O facto é que as colónias vão desaparecendo uma a uma. E com elas, as matérias primas baratas, e o trabalho explorado.

Se já não é possível utilizar o trabalho-escravo (ou semi-escravo) nos termos anteriores, toca de arranjar forma de retirar aos trabalhadores-nativos dos países ditos civilizados, a maioria dos seus direitos, transformando-os em “servos da gleba”.

Entretanto surge essa coisa peregrina chamada “Globalização Económica”. Que mais não é que uma maneira fácil e barata de utilizar uma nova forma de escravatura, em países longínquos e miseráveis, em que homens, mulheres e crianças, sem qualquer protecção, se matam a trabalhar (sem horário), por uma mísera tigela de arroz. Deslocalizar para lá as empresas, obtendo assim uma produção incrivelmente barata que irá ser vendida no ocidente a preços muitíssimo competitivos, gera uma riqueza imensa nas mãos de muito poucos. É o neo-liberalismo.

Mas o grande consumo está ainda no ocidente, onde grande parte dos possíveis consumidores vão ficando desempregados, ou nem sequer conseguem emprego. Sem emprego, não há trabalho, sem trabalho não há dinheiro, sem dinheiro não há consumo, sem consumo não há impostos, o Estado empobrece. É a CRISE.

Paralelamente surge a especulação financeira que nunca resolveu problema nenhum. Sucedem-se os grandes negócios, na sua maioria ilícitos ou fictícios, mas também as grandes falências (já tinha acontecido no início do século XVIII, com o Sistema Law, lembram-se? E lembram-se no que deu?).

A riqueza estará onde estiver a força de trabalho. E essa já não está aqui. O aumento ou diminuição demográfica também tem uma palavra a dizer – sempre teve.

Estamos actualmente da fase da “grande revolta”. Onde esta vai conduzir ainda não sabemos, mas podemos adivinhar. E não serão os grandes economistas nem os grandes financeiros que o irão resolver. É da História.

Numa visão futurista podemos talvez antever uma grande reviravolta – não será a primeira na História – em que os antigos colonizadores se transformarão em novos colonizados. É o fim duma Cultura.

Talvez seja justo, quand même.

1 comentário:

  1. Eu vejo a coisa da seguinte forma: um país não pode prescindir da produção, dos relógios na Suíça à construção naval na Finlândia (imagine-se, que cá já nem a reparação se faz), e foi isso que aconteceu a Portugal nas últimas décadas. Resta-nos um Salvador Caetano; uma Autoeuropa, que se for embora provocará uma catástrofe de dimensões difíceis de calcular na península de Setúbal, onde pouco mais há; uma Efacec, única empresa portuguesa de dimensão internacional; e alguma coisa na área dos moldes na Marinha Grande e norte do país, não se sabe bem até quando. Some-se a isso o estado das pescas e da agricultura, onde sobra pouco mais que o vinho, azeite, e a área florestal (cortiça, papel).
    A coisa dos serviços é tudo etéreo e resta saber o que verdadeiramente se passou/passa com os bancos. E seguros que agora é tudo a mesma coisa.
    Ah, resta o turismo, mas isso, embora realmente haja um grande potencial, sobretudo na maltratada parte cultural, não chega. Quanto à praia, ela na generalidade é boa mas pouco competitiva quando comparada com inúmeros destinos tropicais e mesmo mediterrâneos, muitas vezes de maior qualidade e geralmente mais baratos.
    Mas isto não se faz com um TGV de Lisboa ao Porto, quando existe um comboio comprado há 12 anos, capaz de fazer um tempo de apenas mais 15 minutos que o TGV caso as linhas estivessem a funcionar a 100%. Não se faz com um novo aeroporto quando se continuam a enterrar centenas de milhões de Euros todos os anos na Portela.
    Faz-se permitindo que apareçam novas empresas, novas ideias a funcionar. Sem asfixia fiscal e demais asfixias normativas, etc. Esse é o melhor apoio que o estado pode dar.
    E pensar que fomos os percussores de uma primeira globalização, do império no sentido de uma rede comercial de dimensão global. O mar, sempre o mar. Falta pouco para a Europa fechar a torneira que na verdade pouco aproveitámos. Mas ainda não é tarde demais para voltar ao mar.

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