quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Post antigo ...

... que não cheguei a postar na altura. Faço-o agora, porque mantêm a sua actualidade:
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Escrevo em Fevereiro de 2008, quando passa o duplo centenário de acontecimentos que são marcos da nossa História.

A 1 de Fevereiro de 1808 foi proclamado, em Lisboa, por Junot, o decreto que declarava extinta a Casa de Bragança e que “Portugal todo inteiro seria dai em diante administrado e governado em nome do Imperador dos Franceses (...)”

A 1 de Fevereiro de 1908 são assassinados, no Terreiro do Paço o Rei D. Carlos de Portugal e o Príncipe Real D. Luís Filipe.

A 1 de Fevereiro de 2008 a Assembleia da Republica Portuguesa, prepara-se para ratificar um Tratado que coloca Portugal na inteira dependência das grandes potências estrangeiras.

Voltámos, pois, atrás 200 anos.

(No dia em que escrevo, 9 de Fevereiro de 2008, leio, num documento coevo, que neste dia, em 1808, foram “espingardados” das Caldas da Rainha, seis soldados e dois “paisanos” que se tinham revoltado contra os soldados franceses.)

Não vale a pena contar o que foram as Invasões Francesas em Portugal, entre os fins de 1807 e meados de 1811. A história é conhecida, embora dois séculos passados muito pouco, ou quase nada se tenha feito para a assinalar.

Compreende-se.

A situação em que hoje nos encontramos quase repete aquela em que nos encontrávamos há 200 anos e é, em parte, consequência daquela. Basta lembrar o Congresso de Viena, em que a Europa foi retalhada e partilhada entre as “Grandes Potências” da época: Áustria e Prússia (isto é a Alemanha), Rússia, Inglaterra e, apesar de tudo, a França.
As grandes potências de então (a que depois veio a juntar a Espanha) nunca desistiram, até hoje, de fazer da Europa um grande império. À maneira de Carlos Magno, elas serão os Suseranos, e as outras os Vassalos. E a “mínima potência” que é hoje Portugal mostra-se muito interessada neste sistema de retorno a um neo-feudalismo. (O Grandes asseguram protecção e comida, os Pequenos, pagam-lhes em corveias.)

É curioso que tenha sido em pleno feudalismo que Portugal recusou a vassalagem e se afirmou com um Estado independente e soberano. E que seja hoje, passados quase 900 anos que essa soberania, tão duramente conquistada e defendida, esteja a ser alegremente alienada, sem ninguém querer saber o que pensam disso os portugueses.

Por isso é tão importante deixar os portugueses na ignorância da sua História.

Mas há mais paralelismos que se podem fazer: Os mesmos anos que durou a Guerra, chamada Peninsular – cerca de 3 e meio – foram os que mediaram entre o Regicídio e a proclamação da República ... que mais não foi que o prolongamento da Monarquia por meios violentos.

Se o povo – o mesmo povo de tanoeiros e alfaiates que aclamou o Mestre de Avis em 1383-85 – se rebelou e venceu os franceses (com a ajuda mínima, embora decisiva dos Ingleses) – ficou quedo e mudo perante a mudança de regime, foi porque a independência de Portugal nunca esteve efectivamente em perigo. E porque as ditaduras, nunca lhe meteram realmente medo.

Já a questão da independência, assobia mais fino. (Há hino mais patriótico que “A Portuguesa” ?)

Razão tinham os “sábios” (ou “perfidos”?) ingleses quando foram últimos a reconhecer o regime saído do golpe (corporativo) dos capitães de Abril. Não foi passarem de uma ditadura para uma outra ditadura, embora de sinal contrário (e seria este sinal mesmo contrário?), foi o facto de esta nova ditadura ser comandada de fora, do estrangeiro, que encolerizou o povo. A reacção popular, dos tempos do PREC, foi rápida, eficaz e vitoriosa. Deixou porém uma lição: as coisas não se podem fazer tão depressa. Há que fazê-las pé-ante-pé, ou seja, para usar a terminologia “europeia”, por pequenos passos. Deste modo, o povo já não se enfurece, fica sonolento, como que adormecido. Já Salazar fizera o mesmo: avançou devagarinho.

À moda de Salazar, também a integração de Portugal da (des)União Europeia foi sendo construída, devagar, devagarinho, à completa revelia dos portugueses.

Não é por acaso que na escola se ensina sexo, mas não História. Saber História é perigoso: não vá o povo querer tomá-la como exemplo.

O povo, os “paisanos” de oitocentos, preferiam perder casas e searas, para defender a terra que sentiam sua. Hoje o povo já não sente nada, porque já nada lhe pertence, nem a sua própria opinião. E deixa-se levar ... “cantando e rindo”, à boa maneira da Mocidade Portuguesa..

Quando um regime menospreza a opinião do povo, esse regime toma um nome: Ditadura.

De que serve uma democracia formal, se os principais partidos falam diferente, mas agem igual ? Quando igualmente prometem, e igualmente mentem ? Quando a Justiça já não julga (ou julga mal e a más horas) ? Quando a Saúde mata mais do que cura ? Quando a escola não ensina ? Quando já não há trabalho, e os portugueses estão reduzidos a pedir esmola ? Quando o crime progride impune ? Quando os polícias têm medo dos ladrões ? Quando já nem fronteiras nem moeda temos ?

Só há, infelizmente uma resposta:

PORTUGAL MORREU !. R.I.P.

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